domingo, 26 de outubro de 2014

Ney Matogrosso em Curitiba

  "Atento aos Sinais". Esse é o nome do último disco, que dá nome ao mais recente espetáculo apresentado por Ney Matogrosso. 
   "Ney Matogrosso". Verbete encontrado em alguns dicionário de música brasileira. Mas o artista transcende o verbete. O artista não cabe na palavra, por mais adjetivos que possamos usar para descrevê-lo; o artista está além. E aqui não me prendo muito. Quem sente essa entidade viva da música brasileira sabe do que estou falando. Eu senti. Eu presenciei. 
  Ney Matogrosso é passe que se toma para se purificar: um passe sonoro, visual; de qualquer forma, atinge a alma, o espírito, a mente, o coração: tudo melhora! E ontem (25/10/2014) melhorei. Quem assiste àquele homem (que idade ele tem mesmo? Não importa) rebolando no palco, soltando agudos maravilhosos, tirando a roupa, cantando majestosamente, muda, nem que seja um pouquinho, o jeito de ver o mundo, o jeito de ouvir música...  
    "Atento aos Sinais" trouxe, basicamente, o repertório do último disco, músicas que provam a versatilidade do artista, que vai da agitada "Rua de Passagem" (que abre o espetáculo), seguida por "Incêndio", até "Noite Torta" e "Ilusão da Casa". A terceira canção executada, que colocou a plateia (que parecia não muito familiarizada com o repertório, fato que não impediu que fizessem coro e aplaudissem fortemente o artista)  para cantar, foi a clássica "Vida, Louca Vida", sucesso na interpretação de Cazuza (referência que não poderia faltar no show).
     O show continuou com "Two Naira Fifty Kobo", de Caetano Veloso, numa clara evocação (e reverência) de Ney aos cultos afros. "Freguês da Meia-Noite", do Criolo, trouxe-nos um Ney boêmio. Seguiram as músicas do novo disco: "Isso Não Vai Ficar Assim", "Pronomes", "Imagina", "Não Consigo", "Fico Louco", "Tupi Fusão", "Samba do Blackberry" e "Todo Mundo o Tempo Todo" fecharam o primeiro ato. Nesse tempo: trocas de roupa, sensualidade a flor da pele, interação com o público (ele desceu até a plateia).
    Vem o bis, depois de aplausos efusivos para este gênio da música brasileira e mundial. Na sequência, a romântica "Poema", também de Cazuza, e o animadíssimo samba "Ex-Amor", de Martinho da Vila, que Ney cantou com uma rosa que alguém da plateia lhe entregou atrás da orelha. Finalizou com o clássico "Amor", da época de Secos & Molhados. 
   Vê-se a aprovação do show pela reação do público. Muitos aplausos, muitos comentários de "que show maravilhoso", "adorei!". 
      Foi realmente inesquecível. Ney é um artista completo. Vida longa a ele!





sábado, 13 de setembro de 2014

Jorge Mautner em Curitiba

    Não são raras as críticas frustradas da imprensa, nem as previsões que não se realizaram: Jorge Mautner (assim como Tom Zé, Sérgio Sampaio, Walter Franco, Itamar Assumpção, Jards Macalé, Luiz Melodia etc) foi taxado de artista "maldito", que não seria assimilado pelo público, artistas anti-comerciais. A imprensa errou: esses artistas duram até hoje; esses artistas se renovam a cada álbum, a cada show; esses artistas, considerados pelas revistas especializadas em música alguns dos maiores músicos brasileiros, são valorizados por, no mínimo, três gerações. 
    Um desses ícones da denominada contra-cultura (bastante expressiva nos anos 1960 e 1970) realizou, nos dias 09 e 10 de setembro, no Teatro da Reitoria, em Curitiba-PR, shows memoráveis. Jorge Mautner e banda encantaram o público presente, mostrando entrosamento entre eles; além disso, ficou claro o respeito e a admiração que a banda demonstrou por Jorge. 
    O show trouxe músicas principalmente dos álbuns Para Iluminar a Cidade (1972), Jorge Mautner (1974) e Eu Não Peço Desculpa (com Caetano Veloso, 2002). Iniciou com "Sapo Cururu", "Manjar de Reis", "Herói das Estrelas", "A Bandeira do Meu Partido" passando por outros clássicos, como "Samba dos Animais", "Eu Não Peço Desculpa", "Vampiro", "O Relógio Quebrou", "Guzzy Muzzy", encerrando com "Lágrimas Negras","Quero Ser Locomotiva", "Maracatu Atômico" "Samba do Blackberry" (só a banda), "Hino do Carnaval Brasileiro" e um pout-pourri de marchinhas. Entre as músicas, Jorge lembrou a parceria com seu amigo Nelson Jacobina, rememorou o saudoso samba e Clementina de Jesus, relatou suas influências do candomblé, ressaltou sua fé em Jesus Cristo; mostrou-se bastante lúcido. 
    Um show bastante intimista, um show em que o artista se valoriza, um show em que o público se delicia. Esse foi o show de Jorge Maunter. Após, recebeu os fãs no camarim de maneira muito gentil.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Pocket Show com Danilo Caymmi

    É simplesmente impossível dissociar o sobrenome Caymmi da música brasileira: um é a essência do outro, e isso desde Dorival e, depois, seus filhos Nana, Dori e Danilo e, mais recentemente, Alice (filha de Danilo). E nesse clima de rememorar a grandeza da obra de Dorival - que faria 100 anos em 30 de abril de 2014 - o projeto "Caymmi em 4 Cantos" foi um presente que nos foi dado. 
    



Como parte desse projeto, Danilo Caymmi apresentou um pocket show no Teatro Eva Hertz (Livrarias Cultura do Shopping Curitiba) nesse sexta-feira, dia 22/08/2014. Uma mistura de bate-papo descontraído (Danilo é super espontâneo e engraçado) e interpretações de música suas e de Dorival, costuradas por imitações de Martinho da Vila, relatos de histórias de Dorival e Carmen Miranda, fatos de Nana Caymmi e Dori, e cordialmente responde a perguntas da plateia.
    Mediado por Rodrigo Browne e acompanhado pelo violonista Davi Mello, Danilo iniciou com "A Vizinha do Lado", seguida de "O Bem e o Mal" (dele próprio), "Vatapá/"O Que é Que a Baiana Tem?/Maracangalha", "Andança", "Casaco Marrom", "Marina" e encerrou com "O Samba da Minha Terra". Ao final do show, Danilo foi super simpático em atender alguns fãs que permaneceram no local.

domingo, 17 de agosto de 2014

Pepeu Gomes e Moda de Rock em Curitiba

O guitarrista baiano Pepeu Gomes e a dupla Moda de Rock, composta por Ricardo Vignini e Zé Helder, se apresentaram nesse sábado (16/08/2014) no teatro da Caixa Cultural, em Curitiba. O show fazia parte do espetáculo “Tem Viola no Rock”, que teve ainda participações do guitarrista Andreas Kisser com Matuto Moderno e do titã Sérgio Britto com a banda curitibana Charme Chulo. O propósito do projeto é incorporar a guitarra na música caipira e vice-versa, mostrando como essa mistura dá som – e dos bons. Essa é a prova maior de que a música brasileira não é “A” música brasileira, mas sim são “AS” músicas brasileiras: a brasilidade musical vai do samba ao rap, do pop ao jazz, da música caipira ao rock n’ roll.
Pepeu Gomes, cantor, compositor, considerado pela revista americana Guitar World (1988) um dos 10 maiores guitarristas do mundo, e pela revista Rolling Stone do Brasil um dos 100 maiores músicos do país, começou sua carreira de músico no final do anos 60, em grupos como Os Minos. Entretanto, foi na lendária banda Novos Baianos que ele ascendeu, juntamente com Moraes Moreira, Baby do Brasil, Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, etc; na década de 80, lançou discos de grande sucesso e emplacou hits memoráveis, como “Masculino Feminino”, “Eu Também Quero Beijar”, “Mil e Uma Noites de Amor”; além disso, suas reinterpretações de clássicos do chorinho compõem parte fundamental de sua obra. Com ele, participou a banda Moda de Rock, que mistura rock e música caipira com excelência e virtuose indescritíveis.
No setlist de Moda de Rock, no show, estiveram presentes Iron Maiden, Metallica, Ozzy Osbourne, Rolling Stones (numa versão incrível de “Paint it Black”). Já acompanhados de Pepeu, tocaram “Bilhete Pra Didi” (do disco Acabou Chorare, de 1972), “Preta Pretinha” (também do mesmo disco), em coro com a plateia, “May This Be Love”, de Jimi Hendrix, “Brasileirinho” (um clássico de Waldir Azevedo e um clássico retomado por Pepeu em seus shows) e “Norwegian Wood”, dos Beatles, para encerrar o show. Ao final, todos receberam os fãs para autógrafos e fotos. Fica aqui a memória de um show clássico e memorável, uma mistura que deu certo.

sábado, 26 de julho de 2014

Caetano Veloso em Curitiba

   É inegável que Caetano Veloso é um dos mais influentes músicos brasileiros, reconhecido internacionalmente, e nacionalmente, figura entre os grandes músicos (ao lado de Chico Buarque, Tom Jobim e João Gilberto). Atravessa décadas e gerações com sua música, que cria tendências, ao mesmo tempo que resgata o cancioneiro de outras épocas. Foi assim no Tropicalismo, com "Alegria, Alegria", "É Proibido Proibir", "Divino, Maravilhoso", "Baby", "Panis et Circensis". Foi assim nos anos 70, em Londres, com "It's A Long Way", "London, London", "Triste Bahia", "Maria Bethania". Foi assim nos anos 70, no Brasil, com clássicos eternos (para mencionar três: "Sampa", "Qualquer Coisa" e "Cinema Transcendental". E o sucesso, a junção entre o popular e o erudito, continuou e continua até hoje. Abraçaço, que dá nome à turnê apresentada, é Caetano do início ao fim, disco moderno, com funk, rap, samba: tudo do melhor.
    E o show "Abraçaço" não poderia ser diferente: a maravilha sonora e visual que em raríssimos momentos pode ser encontrada. Algo histórico do início ao fim. Algo inesquecível (e para refrescar o que não se pode esquecer aqui escrevo). Quem esteve lá diz que foi especial, indescritível: e foi! Caetano-mágico-poeta-criador de sonhos.
     No setlist, clássicos de ontem e de hoje. As do mais recente disco, "Abraçaço", e outras, "Triste Bahia" (1972), "Alguém Cantando" (1978), "Coração Vagabundo" (1967), "Odeio" (2005), "Reconvexo", "De Noite Na Cama" (1970) e fechando a primeira parte com "Você Não Entende Nada" (1971). No bis, as inesperadas "Força Estranha", "Nine Out of Ten" "A Luz de Tieta" (que fechou o show, com o coro animadíssimo da plateia).
    A jovem banda Cê, que o acompanhou nos três últimos discos (Cê, Zii e Zie, Abraçaço), composta por Pedro Sá, Ricardo Dias Gomes, Marcelo Callado), realçou ainda mais o show, modernizou a atmosfera. Afinadíssimos!
     Fica aqui a recordação de uma quase foto com Caetano, frustração pra vida toda, por ora. E fica a dica: curta Caetano, coma-o, devore-o. É delicioso!






domingo, 15 de junho de 2014

Os Mutantes em Curitiba

Rita se aposentou; Arnaldo continua com o belíssimo espetáculo "Sarau o Benedito"; Sérgio prossegue levando o nome d'Os Mutantes aos mais diversos cantos do mundo. O legado dessa banda é incomensurável, a sua importância para o cenário musical brasileiro é impossível de ser medida: Os Mutantes são a história. E Sérgio Dias é a personificação dessa história. Não cabe a mim rebater as críticas desmedidas feitas à banda - críticas similares foram feitas no início da carreira deles, nos anos 1966-67, e se mostraram (histórica e realmente) infundadas.
     O que eu tenho a dizer sobre os atuais mutantes é o seguinte: maravilhosos! coesos! perfeitos! São algo inexplicável: não são revival, não são presos aos antigos (apesar grande parte do show se pautar naquelas canções, mas com uma roupagem diferente). Os Mutantes têm vida própria, que transcende o tempo e o espaço. Os Mutantes são DEMAIS!
     A abertura do show ficou por conta da banda curitibana Gregos & Troianos, de performance cativante, eletrizante, rockeira à milésima potência (inclusive colocando uma moto no palco). Conduziram muito bem seu momento, que teve dois ápices: o primeiro, em que dividiram o palco com o Patrulha do Espaço, Rolando Castello Júnior; o segundo, em que o mutante Sérgio Dias canta com eles "O Contrário de Nada é Nada". Fim do primeiro ato.
     As luzes se apagam. Os corações batem mais forte. Surge Sérgio Dias, surge o maior guitarrista do Brasil, surge uma das lendas do rock nacional. Sérgio e Esmeria Bulgari iniciam com "Vida de Cachorro" e já parte pra "Fuga nº2". O restante da banda chega e o show começa: "Tecnicolor", "Batmacumba" (com incrível solo do nosso virtuose), "Jardim Elétrico", "Virgínia". Em "A Minha Menina", a plateia, que já estava entusiasmada ficou ainda mais elétrica quando foi convidada para ficar em pé, dança, se mexer (cena que se repetiu em "El Justiciero", em que a presidenta Dilma fez parte da letra).
     O show segue com músicas (3) do novo disco da banda, ainda não lançado no Brasil, o Full Metal Jack. Após, disparam com "Cantor de Mambo", "Top Top", "Ando Meio Desligado", que, a partir de um solo maravilhoso, cativante de Sérgio, emenda com "A Hora e a Vez do Cabelo Crescer". Fim do segundo ato. Vem o bis.
     No bis, a emoção corre solta; a plateia participa mais do que nunca, vai pra frente do palco, dança, se entrega. "Balado do Louco" arranca lágrimas, gritos, suspiros, emoções das mais distintas naturezas afloram: o momento é único e inesquecível. Após, e não poderia ser diferente, "Panis et Circencis" encerra o show, de forma competentíssima e histórica. Todos agradecem, Sérgio joga a palheta, passa a mão pelos que estão na frente do palco (inclusive eu), esquece uma metade e volta, passando a mão por eles. Atendem várias pessoas no camarim.
     Sim, Os Mutantes são demais!