quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

E se me perguntarem o que é saudade?

É ter de viver só de lembranças.
É não se ter o que se teve um dia.
É ver-se preso numa alegria
que o tempo não traz mais.

É ter vontade de sorrir e de chorar, ao mesmo tempo.
É querer fugir e correr atrás de antigos lugares.
É ver nas fotos os olhares
não mais vistos, apenas lembrados.

É ter de andar com as mãos nos bolsos
alguém que sempre andou de braços dados.
É forçar a vista querendo vê-la ao horizonte
e, por um instante, acreditar que é ela vindo.

É cantar uma canção de despedida e,
logo após, iniciar um "Amanhã vai ser outro dia..."
É crer numa vida como era
sem lembrar que, apesar de tudo, ainda há vida.

É ver na escuridão uma luz já conhecida.
É subir os degraus que os pés já tocaram...
e riram-se, e choraram-se ao se lembrar.
É ser um peixe vivo vivendo fora d'água fria.

(Indefinível, tal qual o amor, é a saudade. Algo tão pessoal e, ao mesmo tempo, universal; quem não sentiu, sentirá um dia, de alguém, de alguma coisa, de algum momento. Saudade também é a ausência de si mesmo. Saudade é o bom e ruim da vida; é quem mantem a chama viva da memória, dos bons momentos. Nem eu sei explicar o que é saudade. Quem sabe?)

30 de janeiro, Dia da Saudade.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Soneto dos Teus Olhos

Teus olhos, labirintos sem saída,
me tomam pela mão a todo instante.
E mesmo sem querer ser importante,
tua vida fez-se parte da minha vida.

Teus olhos, enigmas indecifráveis,
devoraram corações de teus amantes.
E agora diz ao meu, qual disse antes:
"Se não devia ser assim, por que olháveis?"

Teus olhos, profundeza tão divina, 
raptaram-me da vida que eu tivera
Se não por brincadeira, pura arte

Teus olhos, de mulher e de menina, 
tão dóceis - e mortais como uma fera,
despertaram o desejo por amar-te.



Curitiba, 2014

sábado, 25 de janeiro de 2014

Hermeto Pascoal em Curitiba

   Isso não é uma resenha, é um "desabafo" de felicidade. Não sou crítico musical, não sou musicista, não sou jornalista, mas sei reconhecer quando algo é "tocante", "sensibilizante", musicalmente falando. E uma das coisas mais incríveis nesses termos aconteceu dia 24/01/2014, no Teatro Guaíra, em Curitiba: uma grandiosa, genial apresentação de   Hermeto Pascoal e Grupo.
    Eu disse Hermeto Pascoal e Grupo. O show era compartilhado. Ou podemos ainda dizer que "O Grupo" eram um show a parte, ao mesmo tempo que não apenas acompanhava, mas dividia a cena com Hermeto. As transições pelo palco, os solos musicais de cada um, a integração espírito-musical entre cada um desses músicos conferiu à apresentação o ar sagrado que transmitiu. Vale ainda ressaltar a generosidade de Hermeto ao convidar músicos da cena musical "universal", como ele próprio definiu, para compartilhar o show com ele.
    Quem nunca ouviu Hermeto pode se assustar com as improvisações, a linhas melódicas particulares, os instrumentos típicos, a genialidade musical do artista. Pode parecer complicada a música de Hermeto, mas assim como eu, que não entendo nada de teoria musical, você se tranquilize: "sentir antes de saber". Repetia Hermeto constantemente. Sentir antes de saber. E era isso. Era preciso sentir. Hermeto é indecifrável, racionalmente; mas se você o sente, se sente sua arte, você se completa, você respira a musica das sensações, dos sentidos. O show é inenarrável, basta dizer que foi especial! (no melhor sentido possível).
    Logo após, ele me recebeu no camarim, assim como a outras pessoas presentes no show. Entre as coisas que falou, a que mais marcou foi: "O futuro da música está nas mão de vocês (jovens)".
    Se depender de mim, mestre Hermeto, a sua música, a música boa e universal se propagará pela eternidade. Salve, Hermeto Pascoal, o Bruxo!

Seu discípulo, admirador, fã e seguidor, Gabriel Percegona.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Poema dadaísta


Não sou dado aos ismos de Dadá
Mas já que me dei, dou-me todo
Do-dou-me
De-dei-me
Dadaísmo.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Imediato

Imediato.
Não há tempo para o poema.
Não há tempo para a família.
Não há tempo para os amigos.
Não há tempo para a felicidade.
Não há tempo para nada
que não seja ver o tempo passar.
 O tempo do dia acabou no tempo da hora
que acabou no tempo do minuto que se finda em segundo.
Não há ponto nem virgula
espaços separam palavras e a respiração sôfrega dita o ritmo da leitura
da vida
do tempo
Não há vida nem tempo. Não há eu nem você.
Preciso parar e voltar a trabalhar.
e se me tomam o emprego?
e se me reduzem salário?
e se me tornam ordinário?
e se me vendem por pouco?
e se me titulam de louco?
e se meu grito for rouco?
E o medo de hiato?

sábado, 4 de janeiro de 2014

Casulo

Hoje eu não abri a porta
                         (a cortina)
                         (a janela)
Preferi não ver a vida lá fora.
E fui feliz por um dia.